Juntos
promovendo
a dignidade da pessoa
Com
responsabilidade e compromisso
Sub-Lema 2016:
“Comprometendo-me
com o bem comum, transformo
o mundo”
Tema: Desenvolver o compromisso no bem comum
ü
Compromisso
com uma solidariedade transformadora
ü
Educar
com uma visão de esperança
ü
Trabalhar
para humanizar a vida
ü
Espiritualizar
o nosso trabalho
DESENVOLVER O COMPROMISSO NO BEM
COMUM
A solidariedade não se possui, se irradia! Ela é geradora de
dinamismos que por um lado transformam as pessoas e as comunidades e por outro
lado a comunicam contagiando outras pessoas da mesma força solidária suscitando
nelas o melhor de si. Assim como a luz não pode deixar de iluminar, a
solidariedade não pode não se irradiar!
Vivemos num espaço comum, a Terra, que é uma casa habitada por
um número cada vez maior de seres humanos. Nesta casa comum devemos aprender a
escutar-nos, a não lutar para apagar a luz do outro, mas pelo contrário
iluminar-nos em conjunto. Devemos aprender a acender juntos o fogo que aqueça a
humanidade e que arda para construirmos juntos espaços verdadeiramente humanos.
A solidariedade tem que irradiar raios que apontem ao mesmo
centro: o bem comum. Isso requer que a pessoa solidária saiba correr o risco de
deixar as seguranças de um território conhecido, isso é: a sua realidade
pessoal, para pôr-se em caminho com os outros em direção ao bem comum, tendo
todos uma visão solidária, cada um a partir daquilo que é: a própria cultura,
religião, maneira de ser.
Desenvolver um compromisso pessoal a favor do bem comum implica
superar os preconceitos, não julgar o outro com orgulho, saber discernir o que
é bom, útil, saudável para o bem de todos, doar-se a si mesmo estando atento ás
necessidades dos outros.
Para isso é preciso em primeiro lugar tomar consciência de nós
mesmos, tal como trabalhamos no primeiro sub-tema
“Cuidando
do meu ser, reconheço quem sou ”
saber quem e como somos (Autoconhecimento
com Verdade), aceitar-nos a nós mesmos (Autoaceitação com Amor), tomar
responsabilidade sobre os nossos pontos fracos (Responsabilidade na mudança
pessoal) e comprometer-nos a amadurecer consolidando todas as dimensões do
nosso ser (Consolidação da própria pessoa).
Só desta maneira é que podemos doar as nossas vidas aos outros,
tal como trabalhamos no segundo sub-tema
“Cuidando dos outros, reconheço o valor de cada um”
e assumir uma responsabilidade
mais amplia, em prol da humanidade ou de um grupo alvo em particular, desenvolvendo
a nossa capacidade de “Descobrir o valor do outro” e “Despertar a
corresponsabilidade”. Poderemos então viver como pessoas solidárias que se
dedicam a “Potenciar os recursos dos mais desfavorecidos” e “Criar autonomia e
protagonismo nos mais excluídos” com uma visão comum do Bem.
O “outro” nos salva de nós mesmos na medida em que nos
comprometemos com ele/ela. O círculo do egocentrismo se quebra diante da
irrupção em nossas vidas das necessidades dos outros. O outro já não será então
uma ameaça para o “meu bem”, mas alguém que partilha as minhas mesmas
necessidades de bem. Este reconhecimento do outro me permite superar o
isolamento da minha pessoa fechada nas suas carências e desejos. A verdadeira
felicidade chega só quando cuidamos dos outros.
Chegar a reconhecer que o outro é o nosso próximo -mesmo se
vive longe de nós- e que somos responsáveis os uns dos outros, implica um
grande progresso na consciência humana. Pressupõe o respeito pela sua
existência e põe limite á voracidade do egoísmo, permitindo-nos passar do “reino
da necessidade” ao “reino da gratuidade” (dar e dar-se de maneira
desinteressada, sem esperar nada em troca). Sem a solidariedade o ser humano
não vive a sua dimensão interior, a sua dimensão espiritual.
Escrevia a poeta chilena Madeleine Roch:
Devemos sentir no coração uma força indomável,
Quando estamos convencidos do bem que fazemos.
Não compreendem o nosso ideal? Que importa!
Chovem as piadas cobardes e infamantes?
Coragem amigos! A luta nunca é demasiado forte,
O sonho nunca é demasiado grande!
A potência de um ideal é enorme! Nós somos os que temos a
responsabilidade da escolha:
deixar
que exista só como um pensamento elevado mas inoperante?
ou
desenvolver
a potência que esse ideal contem,
transformando-o em acções concretas que cooperem no mundo para que todo ser
humano ferido e empobrecido se levante e se torne por sua vez uma força
transformadora no mundo?
Esta é a escolha que determina o nosso compromisso ou
não-compromisso para o bem comum!
COMPROMISSO COM UMA SOLIDARIEDADE TRANSFORMADORA
A acção solidária é um serviço gratuito e desinteressado que
nasce de uma tríplice conquista da cidadania:
- exercício da autonomia
individual
- participação social
- solidariedade com os mais
necessitados.
Note-se bem que esta definição não fala de “heroicidade” e
“altruísmo”, mas fundamenta a acção solidária na consciência e no facto de pôr
em prática a cidadania responsável. Ser solidário então, é a consequência de tomar a serio a condição de
cidadão responsável e comprometido com a justiça.
Podemos sublinhar três características desta “cidadania
responsável”:
1.
Descobrir a nossa
diversidade
É necessário estarmos abertos a
outras realidades sociais diferentes do grupo social ao qual pertencemos. Temos
que sair do círculo reduzido dos nossos familiares e amigos, da nossa cidade ou
bairro, do nosso nível social e cultural e atravessar as fronteiras sociais que
nos dividem e separam. Ao fazê-lo, descobriremos a existência de vidas humanas
que precisam e merecem ser consideradas. Não é possível ficar indiferentes
diante da dor e da raiva produzidas pela exclusão. Neste contexto, surge a
solidariedade que pode e deve ser fermento de uma acção social que não esqueça
a justiça, a misericórdia, a generosidade e a gratuidade que só nascem do
encontro nas relações humanas.
Isto inclui uma necessária
abertura: conhecer e valorizar as maneiras diferentes de vida e deixar-se
inquietar pela realidade com que nos deparamos.
O que faz com que o mundo seja
dividido e com realidades tão diferentes? A diferença vem da possibilidade que
uns e outros têm de aceder aos bens da terra e de utilizá-los e do respeito dos
direitos de todo ser humano, independentemente da sua raça, língua, religião e
situação social.
O desenvolvimento cria uma
corrida para ter mais e ter poder, cultiva o individualismo -que é o oposto da
solidariedade- em que cada um defende o que tem. No entanto para irradiar a
solidariedade é preciso estar comprometido com a transformação do mundo e da
sociedade, é preciso estar presente, atento e saber analisar a realidade sendo
solidário num espírito fraterno. É preciso saber optar pelos seres humanos mais
vulneráveis e excluídos de maneira universal, isso é pensando em todos. Para
poder optar por todos, é preciso partir de baixo. O lugar mais universal é
aquele que está mais embaixo, não o mais alto. Quando começarmos a subir, nos
isolamos da realidade e aos poucos ficamos sós.
A obsessão por si mesmos cria
in-solidariedade: cada um pensa só em si, nos seus direitos, e os outros vão depois.
Isto faz com que a maneira de estar no mundo seja com uma atitude de exigência
e sem gratuidade nem gratidão.
2.
Redefinir o bem comum
O
bem comum é aquilo que consideramos como o maior objectivo da convivência
humana, é o ideal ao qual tendemos. Este ideal, porém, é inacessível e alheio a
uma grande percentagem de pessoas no mundo.
Ser
solidários significa gerar dinâmicas de inclusão que permitam que os excluídos
participem do bem comum e desenvolver acções que favoreçam a reabilitação das
pessoas, a assistência a coletivos que vivem em precariedade económica, etc. de
maneira que seja reconhecida a sua dignidade e sejam incluídos no conjunto da
sociedade. A pessoa solidária é capaz de ter a visão da uma sociedade melhor e
lutar para que isso se torne realidade.
A
cultura actual concede um valor inestimável á liberdade e á tolerância, porém o
autêntico amor á liberdade tem que se demonstrar na defesa da liberdade dos
outros e a verdadeira tolerância equivale a respeito e consideração. Não se
trata apenas de aceitar os outros com as suas diferenças, mas de viver uma
solidariedade dinâmica, um movimento espontâneo em direção aos outros para:
-
Conhecer melhor os outros e também nós mesmos
-
Partilhar com os outros
-
Estender aos outros a mão da amizade e da compaixão (que significa “padecer
com”, sofrer pelo sofrimento do outro)
-
Fazer com que os valores universais que partilhamos se enriqueçam com os
valores de outras culturas e outras pessoas.
3.
Promover a mudança
social
A solidariedade ética não se limita a
caminhar com os excluídos e empobrecidos, mas se compromete a lutar contra as
causas da pobreza e exclusão. Não podemos ficar com os braços cruzados diante
de tantos seres humanos sem recursos para poderem viver com autonomia e
dignidade! Se nos sentirmos impotentes e tivermos a ideia que não podemos fazer
nada, estamos errados. Todos podemos fazer muito, mas temos que começar por
cada um de nós.
A solidariedade não é apenas questão de
colaborar economicamente ou oferecer o nosso tempo, mas de transformar a nossa própria
sensibilidade, deixar-nos perturbar pela realidade dos que sofrem e a partir da
nossa situação concreta, assumir um estilo de vida diferente onde predomine a
sinceridade, a verdade, a justiça e todos aqueles valores que geram na
humanidade dignidade e vida.
Comprometer-nos
com uma solidariedade transformadora significa:
·
Estar
presentes para transformar, aos poucos, a realidade para o melhor. A nossa
sensibilidade se transforma de facto com a presença, estando em contacto com as
pessoas, os que sofrem, os que vivem excluídos e empobrecidos.
·
Estar
ao serviço. O serviço ao outro é o contrário do protagonismo, não é uma questão
de generosidade mas de oportunidade. Estando presente na realidade, apercebo-me
daquilo que acontece e me disponibilizo, me ponho ao serviço para abrir
oportunidades que favoreçam que a pessoa supere a situação que a faz sofrer ou a
sua pobreza.
·
Ser
sinal que interpela, que testemunha justiça social e mostra caminhos de amor,
esperança e irmandade que transformam o mundo.
A
solidariedade não é um simples sentir superficial pelos sofrimentos das
pessoas. Pelo contrário, a solidariedade é uma determinação firme e
perseverante; é o empenho pessoal para o bem comum, isso é: para o bem de todos
e de cada um, para que todos sejamos verdadeiramente responsáveis de tudo.